Chegaram à praia durante a noite. Agora restava-lhes esperar na incerteza se viriam. As barrigas roncavam de fome, mas o medo quase os fazia esquecer o quão famintos estavam. A comida terminara ontem. A mãe guardava ainda um bocado de pão duro, em segredo, que esperava dar-lhes quando chegassem ao barco. O bebé chora, e ela dá-lhe a mama seca, na esperança que ele se cale. Ocultos pela noite, aconchegam-se mais uns contra os outros. Deixaram parte da bagagem durante a viagem, e agora só a mochila da mãe e o saco que o irmão mais velho traz. Também o pai se perdeu e ali o deixaram, na beira da estrada. A mãe chora ao recordar o seu amor, o seu único amor. Mas não pode ter saudade quando o medo é o seu principal sentimento. Várias famílias ali estão e outras continuam a chegar. Amontoam-se num estranho silêncio. Trocam olhares numa estranha cumplicidade. Partilham os mesmos medos e as mesmas esperanças. Passaram-se algumas horas e apenas os mais novos dormiram. Já estará quase a aman