E depois vêm dias assim, que abalam o nosso mundo, que nos
fazem tremer o coração e a alma. Em que tudo parece ruir à nossa volta, em que
choramos impotentes face a uma vida que nos foge do controlo. E tudo se
questiona. E ficámos sós, num silêncio que bips de máquinas quebram para nos
lembrar que continuamos vivos. E escondemo-nos entre o medo que nos molda o
rosto, as palavras e nos prende o raciocínio. Agarramo-nos ao que nos resta, ao
mais importante. E de mãos dadas ao que mais amamos sentimo-nos quase sem
forças. Foram assim estes dias. E no meio de um enorme susto descobri o Natal.
Descobri o Natal na senhora que me ofereceu um café quente a meio da noite, o
melhor que já tomei. Na enfermeira que me tapou com um lençol e aqueceu o meu
coração. Na médica que me agarrou o braço e disse: “vai ficar tudo bem” e ficou.
Nos sorrisos de compaixão, de quem passa pelo mesmo. No telefonema e na
mensagem que nos fazem sentir que ainda valemos a pena. E assim, rodeada de uma
imensa luz de compaixão, de afetos, de alento, fiz-me.
A cada um que fez
deste calvário Natal, um abraço de gratidão.
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Texto: Susana Silva
Imagem: Pixbay
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