– Pedro acorda! Acorda!
Pedro dormia
profundamente, mas Gil abanava agora o colega.
– Que foi? – Ainda estremunhado tentou
levantar-se, sem ter noção onde estava. O dia anterior tinha permitido que se
deleitasse no sono com tal afinco, que nem se lembrava dos acontecimentos dos
últimos dias.
– Não estás a ouvir? – Dizia Gil, com os olhos
muito abertos marcados pelo medo. Na mão trazia uma pequena lanterna que
iluminava muito tenuemente a divisão.
Pedro saiu da cama com
algum cuidado para não despertar o bebé e deixou-se levar pelo companheiro que
o puxava pela camisola.
– Não estás a ouvir?
Parecem tambores.
Pedro concentrou-se. Ao
longe ouviam-se umas batidas fortes ritmadas, que de facto, pareciam tambores.
– Sim, estou a ouvir –
disse com voz relativamente calma para a situação o que irritou Gil. – Quando
estava em casa ouvi por duas vezes este som, que depois desaparecia ao fim de
algum tempo. Parecia vir do lado da serra.
Aproximaram-se da janela
da cozinha, da parte de trás do apartamento, que ficava do lado rural e
espreitaram pelas aberturas dos estores. Justamente hoje, Gil tinha fechado por
completo os estores, e consideraram que não os deveriam de abrir para
espreitar. Ainda discutiam o que fazer quando abruptamente os sons pararam.
Fizeram silêncio enquanto, encostados à janela, tentavam ouvir qualquer ruído
que viesse do exterior. Mas apenas o silêncio.
Pedro contou então, com
pormenor que em determinadas noites ouvia os tambores do lado da serra, mas nunca
conseguiu ver nada, apenas ouviu. Durante o dia nunca foi ver se descobria
alguma coisa, porque não queria levar o bebé justificava, embora a verdadeira
razão fosse o temor que o acontecimento lhe despertara.
O sol começava a nascer
e nenhum dos dois teve vontade de voltar a dormir. Gil retomou o seu ritual de
ir à internet verificar se havia algo de novo, mas não encontrou muitas
alterações, alguns sites mantinham o mesmo aspeto há vários dias, outros
estavam agora inativos. Já perdia a conta aos dias, não fosse o calendário do
computador e do telemóvel e não saberiam em que dia estavam.
Do livro "Ao som dos Tambores"
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Texto: Susana Silva
Imagem: Pixbay
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