-
Anita, anda, veste-te. Vamos a casa da Amália.
Senti logo uma energia
grande que despontou dentro de mim. Vesti-me rapidamente e fui ter com a minha
mãe à cozinha, que já me tinha preparado um pão com manteiga e um leite que ela
julgava morno, mas que me queimou mal o pus na boca. Ela tinha a tristeza
estampada no rosto, os olhos tinham pouco brilho e sentou-se à minha frente na
mesa.
- A
dona Rita ligou a pedir para ires brincar um bocadinho com a Amália, ela está
doente, precisa de companhia. Amanhã vai ao hospital e talvez tenha que ficar
lá uns dias.
Senti um murro no estômago
que ia empurrando o pão, que acabara de comer, para cima.
-
Está doente? Tem gripe? - Perguntei
desconhecendo as verdadeiras proporções daquela informação.
- Não
minha querida, não é gripe. - Disse
a minha mãe, sem me olhar nos olhos porque os dela lacrimejavam.
O dia estava frio e cinzento
embora não chovesse. Segui feliz, desvalorizando a informação que a minha mãe
me dera. Ao chegar ao portão de tua casa um trovão forte fez-me estremecer, e
uma chuva miudinha começou a cair. Encostei-me à minha mãe enquanto
percorríamos o jardim até à entrada da tua casa. À porta, a dona Rita, já nos
esperava. As nossas mães tinham-se tornado muito amigas nestes últimos tempos.
-
Podes ir, a Amália está no quarto dela, sabes onde é.
A frase da dona Rita foi
dita com aspereza, nem olhou para mim. Eu segui, mas fiquei atrás da porta por
uns instantes. O tempo suficiente para ouvir o explodir em choro da tua mãe. Receei
e não quis ouvir mais nada por isso, fugi pelo corredor adiante na direção do
teu quarto. Eu sabia que era por tua causa toda aquela tristeza. Eu sabia que
andavas mais cansada que o normal e muito pálida. Eu sentia que tu não te
sentias muito bem. Eu sabia que devia ter medo. Não era o medo aterrorizador
que sentia do meu pai. Era um medo miudinho que nos consome. Que nos obscurece
a vida. Aquele medo que nos dói até nos pensamentos.
Do livro "O Melhor está para vir"
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Texto Susana silva
Imagem pixabay
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