A montanha é demasiado alta, o trilho
estreito e acidentado.
– Vai tudo correr bem. – grita alguém
da berma.
Mas sinto fome e sede e as forças
abandonam-me nesta dita sorte. Arrastando-me subo, vou alimentando-me das raízes
e folhas secas que encontro, bebo do orvalho da madrugada. Uma leve brisa
empurra-me em direção ao alto e eu só posso acreditar que consigo. Os abutres
sobrevoam-me na ânsia de que lhes sirva de refeição, embora desconheçam esta
força que não me deixará abater.
Bem perto do cume da enorme serra,
ouço palmas e gritos de incentivo daqueles que me alimentaram com o seu amor e
o silêncio dos outros. Num passo quase de êxtase chego ao pináculo e sou
invadida por uma enorme felicidade que toma conta de todo o meu ser e de toda a
minha vida, recordo cada sofrimento, cada queda, cada pequena alegria, cada
sucesso… mas… algo estranho…
Por detrás da montanha que acabei de
escalar a vida apresenta-me outra, ainda maior que a primeira. De onde estou
não consigo ver-lhe o topo, não sei o que lá estará. Caio por terra em
desespero. Os abutres voltaram entusiastas e o silêncio dos outros.
– Vai correr bem – sussurra alguém,
mais para se fazer acreditar do que para se fazer ouvir.
Eu tremo. Com um grito mudo sorrio.
– Vai correr bem – digo em voz alta
para que, os que me alimentaram com o seu amor, acreditem… embora eu não. Em marcha
confiante dou os primeiros passos.
Tenho fome, tenho sede, tenho frio.
Alimento-me de uma confiança que não tenho, bebo das lágrimas que me jorram dos
olhos e aqueço-me com o abraço que me dou. Acendo a luz da fé que tremeluz
nesta noite escura, e caminho sem ver o chão, sentido as pedras pontiagudas a
mortificarem-me os pés.
Não vejo o caminho, mas eu sei que é
por ali.
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