Dlim, dlão…
A campainha da porta tocou e uns ouviram-se uns passinhos
aproximarem-se. A porta abriu-se e a pequena figura surgiu com dois totós no
alto da cabeça e lábios pintados, sardas no rosto e pestanas grossas e grandes.
Uma saia de peito muito rodada onde se poderiam descobrir pelo menos três
camadas de tecido, e uma camisola com mangas em balão.
― O que deseja? ― inquiriu com voz aguda que contrastava com o ar
envelhecido e curvado do corpo que a libertava.
―É hora de almoço Dona Mimi. ― disse com paciência a Lurdes
― É menina Mimi. ―afirmou com aspereza ― hoje almoço em casa.
― Almoça em casa como, Mimi?
― Ora, vou ali à minha cozinha e preparo alguma coisa. Hoje não
quero sair de casa. ― afirmou perentoriamente. E prosseguiu chamando a amiga
com quem partilhava o espaço ― Tatá, já fizeste a sopa?
De lá de dentro uma voz grave que se esforçava por ser mais aguda
responde: ― já está pronta a sopa e a mesa posta.
Lurdes colocou a mão na testa contendo uma gargalhada. E prosseguiu
e conversa: ― posso ver essa mesa posta?
Sem hesitar, orgulhosa, Mimi afastou-se da entrada da porta
deixando a sua visitante entrar. Lurdes encontrou uma pequena mesa posta com
rigor, tudo perfeitamente alinhado e não pode deixar de sorrir.
― Vamos lá, minhas bonecas, hoje o almoço é bife com batatas
fritas.
As matrafonas levantaram-se num pulo soltando um retumbante ―
iupi!!
Lurdes que fechou com cuidado a porta do quarto onde estava
escrito “Casa de bonecas” e seguiu-as de perto pelo longo corredor do
sanatório.
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