Aqui estou, deitado sobre este capim iluminado por um céu estrelado
que admiro como se fosse a última vez. Talvez seja mesmo. A roupa encardida e
ainda molhada colada ao corpo é o meu abrigo e a minha proteção nesta noite
escura. A lua ausentou-se e permitiu um silêncio que consigo sentir, embora nos
meus ouvidos este latejante zumbido que me faz temer até a leve brisa que faz
dançar a mais fina erva. Inspiro profundamente e sinto o ar morno a entrar
pelos meus pulmões o coração parece desacelerar e eu sinto-me em paz.
Que vida feliz que vivi. Vou sentir a tua falta Amália, e
dos teus fados chorados. Leve vento entrega este beijo que te dou colando-o ao
rosto da minha mãe, ela vai saber.
A manhã está para chegar e o meu destino prestes a mudar.
Peço a Deus que tenha compaixão de mim, antes a morte que a captura.
Lá vem ele, é o sol, porque não se demora? A noite que me
protegia terminou, ouço já os passos que me procuram e sinto, encostado aos
olhos, o cano que me ceifará.
O Sol nasceu e eu morri.
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