Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2017

Feliz ano de 2018

Boas Festas

Boas Festas! Um Santo Natal e que 2018 seja um excelente ano!

abanões da vida

A vida às vezes dá-nos uns abanões para percebermos o que é realmente importante. … Ok Vida, já percebi! Foram dias intermináveis, estes mais recentes, o coração do tamanho de uma formiga que crescia a cada telefonema de cuidado, a cada abraço. A doença é a nuvem mais negra que pode pairar sobre as nossas cabeças. Faz-se escuridão mesmo quando havia luz. Sorte que tenho muitas pessoas sol que vão tratando de cuidar de iluminar (e aquecer) este caminho. Está mais claro agora, mas é, ainda, um pouco assustador. E quando tudo estremece há ausências que doem, mas presenças mais fortes que se fazem sentir e que nos fazem sentir. Não me sabia merecedora de tanto carinho. Tratarei de retribuir. É um propósito. Obrigada ----- Texto: Susana Silva Imagem Pixbay

dias...

E depois vêm dias assim, que abalam o nosso mundo, que nos fazem tremer o coração e a alma. Em que tudo parece ruir à nossa volta, em que choramos impotentes face a uma vida que nos foge do controlo. E tudo se questiona. E ficámos sós, num silêncio que bips de máquinas quebram para nos lembrar que continuamos vivos. E escondemo-nos entre o medo que nos molda o rosto, as palavras e nos prende o raciocínio. Agarramo-nos ao que nos resta, ao mais importante. E de mãos dadas ao que mais amamos sentimo-nos quase sem forças. Foram assim estes dias. E no meio de um enorme susto descobri o Natal. Descobri o Natal na senhora que me ofereceu um café quente a meio da noite, o melhor que já tomei. Na enfermeira que me tapou com um lençol e aqueceu o meu coração. Na médica que me agarrou o braço e disse: “vai ficar tudo bem” e ficou. Nos sorrisos de compaixão, de quem passa pelo mesmo. No telefonema e na mensagem que nos fazem sentir que ainda valemos a pena. E assim, rodeada de uma imensa luz d

Do livro "Ao som dos tambores"

"– É melhor para si falar, conte-nos tudo o que sabe. – Disse o mais magro de modo muito sereno Gil sabia que não tinha muitas opções, teria que falar. – Nesse dia acordei e estava sozinho no mundo. – Disse – Desenvolva, desenvolva. – Ordenou o gordo Gil descreveu sucintamente o sucedido, era melhor despachar aquilo: – Acordei como num dia normal, mas tinha desaparecido toda a gente, a televisão não funcionava, a internet não dava notícias novas, ninguém me atendia nem respondia às chamadas. Depois fiquei em casa, de onde, de vez em quando ouvia carros a passar, vi pessoas a ir buscar comida à loja em frente à minha casa, um dia um homem que passava, viu-me na varanda e atirou uns tiros, felizmente não me acertou… – parou por uns instantes, os tiros tinham feito marcas no exterior da varanda, certamente que lá existiriam as marcas, poderia ser uma prova do que ele dizia, mas seria melhor não mencionar isso, tal como os companheiros com quem dividiu casa no último a

do livro "O melhor está para vir"

" Chegada à escola entrei e sentei-me no lugar onde costumava ficar. Ao meu lado não se sentou ninguém. Era o teu lugar. Os pais dos alunos estavam todos juntos, perto da porta, dentro da sala de aula, e após algumas palavras da professora foram convidados a sair. Enquanto todos os pais viraram as costas dirigindo-se ao exterior, a minha mãe caminhou na minha direção. Baixou-se junto a mim, acolheu o meu rosto com ambas as mãos, encostando-o ao dela e disse-me: - Vai correr tudo bem, meu amor. O melhor ainda está para vir. E dando-me um beijo na testa levantou-se afagando-me a cabeça. Eu acreditei tanto naquelas palavras da minha mãe. Senti-me mais serena e o aperto do meu peito aliviou-se por um pouco. Ainda havia sentido. As mães têm este dom de acalmar os corações contritos. Eu não dei um beijo à minha mãe, queria tanto tê-lo dado. " do livro "O melhor está para vir" ---- imagem: pixbay

do livro "O melhor está para vir"

" Todos os dias eu pedia para te ir ver. Então um dia o teu pai levou-nos, a mim e à minha mãe. E eu vi-te. Eu ia com medo de te ver, e de como te ia encontrar, mas ia feliz por te voltar a ver. Ao passar vi-te através de uma janela e continuei para a porta para entrar. O teu pai impediu-me, explicando-me que apenas te podia ver dali, que não podíamos entrar. Tu estavas a sorrir e pudemos falar um bocadinho. Estavas muito pálida, mas voltaste a falar-me do mundo de encantar de médico e enfermeiros, de narizes vermelhos, músicas e cantigas. Parecias-me bem. Mas ouvi o teu pai a dizer com lágrimas nos olhos que estava muito mau. O que é que poderia estar mau. Tu estavas ali a sorrir. Naquele dia pedi à minha mãe e fui até à igreja. Queria rezar a Deus, mas achei melhor ir a casa dele. Para ter a certeza que ele me ouvia melhor. Entrei, ajoelhei-me, benzi-me e pedi muito a Deus por ti. Quando saí lembrei-me que a minha mãe tinha pedido para rezar também pelos teus pais, então,

Do livro "Ao som dos tambores"

"Subitamente acordam com o retorno do barulho, desta vez, ensurdecedor dos tambores. Teresa entrou em grande ansiedade, parecia-lhe diferente desta vez, era tal qual na noite do desaparecimento de toda a gente. Rapidamente Pedro, trazendo Dinis ao colo chegou ao quarto e, entrando sem bater, sentiu-se constrangido por encontrá-los ali juntos. Mas nenhum deles teve tempo para pensar muito no assunto, rapidamente foram espreitar à janela e viram as ruas completamente vazias e o céu sem nuvens. Eles ali ficaram à espera que o som terminasse. Os seus corações batiam aceleradamente, do rosto de Teresa irrompiam lágrimas sem parar, e o pânico estava estampado nos seus rostos. Dinis tremia nos braços de Pedro, mas não chorava, com os olhos muito abertos e a chupeta na boca, parecia o mais sossegado. O som parecia pairar agora sobre eles, parecia vir da rua. Gil voltou à janela para espreitar e ficou boquiaberto com o que viu. – O que foi? – O que vês? Ao silêncio de Gil

Um ano de "O Melhor está para vir"

Foi há um ano que foi apresentado o livro “O Melhor está para vir”. Numa tarde de domingo fria, vi-me rodeada de amigos, que aqueceram aquele auditório para conhecer este meu livro. Este projeto foi, de todos os que já realizei, o mais gratificante. Ver que chegou a todos os continentes e que tocou os leitores foi (e continua a ser) uma experiência incrível. Esta é uma história de ficção, mas que é tão real que poderia ser a minha ou a sua. Acho que é por isso que este livro toca a tantos que o lêem. Quando me propus a escrever este livro desafiei-me a transmitir emoções. Gostava que o leitor se comovesse, chorasse, risse, quisesse abraçar as personagens, mas acima de tudo que se comovesse com a sua vida, que descobrisse gratidão na sua própria vida. Não estava à espera que no retorno dos leitores recebesse, eu própria, o mesmo. As histórias incríveis de leitores que conheci, as pessoas extraordinárias que me escreveram partilhando as suas próprias histórias. Não esperava tant

Do livro "Ao som dos tambores"

"Pedro atento à estrada, embora estivesse mais preocupado com o carro, pois os travões não lhe pareciam grande coisa, e o jipe chiava como se já não pisasse asfalto há vários anos. Sempre que se aproximavam de uma povoação Pedro apertava a buzina algumas vezes, para que, se alguém ali estivesse, tivesse oportunidade de se mostrar, mas o veículo nem parava, enquanto os ocupantes olhavam pelos retrovisores. Iam observando a paisagem, e relembrando o que costumavam ver, quando por aqui passavam. A maior parte das casas eram de pedra e tinham um ar bastante escuro, com as janelas de madeira com uns quadrados em vidro que deixavam ver cortinas de renda branca. Numa destas casas típicas, Gil pareceu ver um rosto, que desapareceu atrás da cortina:  – Pára!!! – Gritou de tal modo que assustou Pedro – Que foi? Estás maluco? – Pedro tinha parado o carro, o que não estava nos seus planos, mas o susto foi tal, que instintivamente carregou no travão – Vi ali alguém. Ali naquela

do livro "O melhor está para vir"

"Tu sorriste, novamente, por baixo da máscara. Estavas já cansada, e notava-se a falar. - E agora já passou? - Perguntei. - Ainda não. Ainda tenho de fazer muitos tratamentos. Mas as pessoas são muito minhas amigas e divertidas. Custa menos assim. Eu já não sabia o que te dizer. Podia contar-te as coisas da escola, mas pensei que não quisesses saber. Eu não te podia cansar. Por isso fiquei calada, a ver o filme que estavas a ver antes de eu chegar. Acabaste por adormecer. E eu fiquei ali a segurar a tua mão. Parecias tão frágil agora. Ouvi os passos e as vozes das nossas mães a chegarem e fiz de conta que também estava a dormir, na esperança de que me deixassem ficar ali mais um bocadinho. Sentia um aperto enorme na barriga, alguma coisa me dizia que deveria ficar ali. Mas não resultou. A minha mãe aproximou-se, tocou-me no ombro e disse-me: - Anita, vamos embora. Eu abri os olhos e larguei a tua mão muito devagar. Despedi-me da tua mãe e saí junto com a minha. Se

Do livro "O melhor está para vir"

" Estavas em casa há cerca de oito dias quando me pediste para eu dormir contigo. Os nossos pais deixaram e eu fiquei muito feliz.  Deitei-me ao teu lado, naquele teu aconchegante leito. Sentia uma tristeza no meu coração que não conseguia decifrar, mas que tentava afastar continuamente. Ligámos o teu candeeiro de estrelas e ali ficámos a olhar para as estrelas a rodar no teto.  Adormeceste primeiro. Eu fiquei a olhar para ti. Tinhas um sorriso, o mesmo de sempre. A tua respiração era lenta, eu sabia como quem não quer saber. Eu sabia mas não queria acreditar que o fosse. Estavas tão serena e bonita. O teu cabelo começara a crescer.  Em breve as aulas recomeçariam e iríamos juntas para a escola.  Não deixei a tua mão, dei-te um beijo na cara e tu sorriste, porque o sentiste. Fiquei sem saber se estavas acordada ou a dormir. Mas deixei-te descansar.  Gosto muito de ti, minha querida princesa. Queria pedir-te um abraço, como quero ainda hoje. Dás-me um abraço? " Do li

do livro "Ao som dos tambores"

– Pedro acorda! Acorda! Pedro dormia profundamente, mas Gil abanava agora o colega.  – Que foi? – Ainda estremunhado tentou levantar-se, sem ter noção onde estava. O dia anterior tinha permitido que se deleitasse no sono com tal afinco, que nem se lembrava dos acontecimentos dos últimos dias.  – Não estás a ouvir? – Dizia Gil, com os olhos muito abertos marcados pelo medo. Na mão trazia uma pequena lanterna que iluminava muito tenuemente a divisão. Pedro saiu da cama com algum cuidado para não despertar o bebé e deixou-se levar pelo companheiro que o puxava pela camisola. – Não estás a ouvir? Parecem tambores. Pedro concentrou-se. Ao longe ouviam-se umas batidas fortes ritmadas, que de facto, pareciam tambores. – Sim, estou a ouvir – disse com voz relativamente calma para a situação o que irritou Gil. – Quando estava em casa ouvi por duas vezes este som, que depois desaparecia ao fim de algum tempo. Parecia vir do lado da serra. Aproximaram-se da janela da cozinha,

Do livro "O Melhor está para vir"

- Anita, anda, veste-te. Vamos a casa da Amália. Senti logo uma energia grande que despontou dentro de mim. Vesti-me rapidamente e fui ter com a minha mãe à cozinha, que já me tinha preparado um pão com manteiga e um leite que ela julgava morno, mas que me queimou mal o pus na boca. Ela tinha a tristeza estampada no rosto, os olhos tinham pouco brilho e sentou-se à minha frente na mesa. - A dona Rita ligou a pedir para ires brincar um bocadinho com a Amália, ela está doente, precisa de companhia. Amanhã vai ao hospital e talvez tenha que ficar lá uns dias. Senti um murro no estômago que ia empurrando o pão, que acabara de comer, para cima. - Está doente? Tem gripe? - Perguntei desconhecendo as verdadeiras proporções daquela informação. - Não minha querida, não é gripe. - Disse a minha mãe, sem me olhar nos olhos porque os dela lacrimejavam. O dia estava frio e cinzento embora não chovesse. Segui feliz, desvalorizando a informação que a minha mãe me dera. Ao chegar

Caixa de correio

Hão caixas que marcam as horas os dias e os anos, que contam cada segundo como uma existência única, que são confidentes e perpetuam as passagens dos que com elas se cruzam. Hão caixas únicas. Esta era uma dessas. Agora tombava envelhecida pelo tempo, poucos a notavam e ela não se fazia sobressair. Mas outrora fora esplendorosa e guardara segredos indesvendáveis. Toim!!!! O barulho estridente fez o dono vir à janela. - Mas que raio?!? - olhava tentando perceber o que acontecera. - Mas quem é que mandou com a bola na caixa do correio?!? Rais parta a canalha!! - Os berros do alto da janela propagavam-se por toda a povoação. A caixa do correio, novinha em folha, cheia de brilho e de brio, acabara de ser atingida por uma bola arremessada pelos jogadores que estreavam o pavimento novo da estrada. A pancada soltara parte da soldadura e a caixa debruçou-se como segurando-se a si própria numa gargalhada incontida. - Oh Rosa!! Tu viste quem foi? - Inquiria desalentado pelo suc

Do livro "O Melhor está para vir"

" O comboio chegou, finalmente. Entramos e sentamo-nos a meio da carruagem. A minha mãe, sentada do lado da janela, continuava atenta observando o exterior como um soldado na mais importante missão. O comboio inicia a sua marcha e, depois de sair da estação, quando mergulhamos na escuridão do vazio exterior que não conseguíamos observar, sinto que a minha mãe começa a abandonar aquele estado de ansiedade que carregava. Pousa o seu braço por cima dos meus ombros e puxa-me para ela. Seguimos a viagem assim, encostadas num abraço quente, deixando Coimbra para trás. Ela soluçava baixinho, eu sentia o seu peito, as suas mãos e as suas pernas a tremer. Mas que poderia eu dizer-lhe? Queria dizer-lhe que ia correr tudo bem. Que íamos tomar conta uma da outra e nada nos ia separar. Mas não o disse. Quantas palavras ficam por dizer, ocultas na intensidade de um mimo ou de um carinho. Quantas palavras ficam por falar, por chorar e por sentir. Queria que as palavras me tivessem saído d

Sorri

Sorri!!! Como se o mundo dependesse disso, sorri. Como uma criança feliz, indiferente aos pensamentos dos outros que concentra toda a sua energia num sorriso, sorri. Vê as aves do céu voarem em novos sentidos, as encherem-se de novas areias. vê os meus olhos nos teus que sorriem, como o teu rosto e todo o teu corpo. Ensinas-me a sorrir assim? Sinto-me tão parva, acho que toda a gente está a olhar para mim enquanto caminho nesta rua. Sim, minha senhora estou feliz, não consigo tirar este sorriso da cara. E as vossas, tristes, que me olham de soslaio e incrédulas, pela ousadia de sorrir num dia cinzento, passam e apenas adensam a minha vontade de sorrir. Vejam, sobre mim já não chove, as trevas abriram-se em tréguas que se deixam trespassar por um fina luz. Não está a ver?? Olhe bem, sim chegue aqui. Isso… já consegue ver? Claro que sim, vejo o seu sorriso. Agora continue neste longo passeio e leve a luz que cintila sobre si, nesse sorriso para o mundo. Se todos sorrirmos as

Beijo

Que perene esse teu beijo. Ajustado entre os sorrisos contidos e as faces coradas beijas-me em fuga, como se algo te pudesse prender para não mais te largar. Como tens razão, como anseio ter-te em meus braços entrelaçados, encontrados. Os sons da rua parecem a todos distrair, mas não a mim, nem a ti, que o vejo no brilho do teu olhar escondido, nos teus lábios intensos e no rubor da tua pele. Toco-te na mão, com  a minha, muito ao de leve e sinto que sentes o mesmo arrepio que ascende pelo meu corpo e não se dissipa no ar, quente… ou talvez frio, nem sei precisar. A tua mão estava gelada, e petrificada ficou na ânsia de um novo toque. E eu não te fiz esperar, amparei-te a mão. Nos dias seguintes amparei-te o rosto nos beijos em que me dava. Que perene esse teu beijo, que ainda agora se afastou de mim, e como uma onda te fez aproximar novamente. Beijo-te… ---- Texto: Susana Silva Imagem: pixbay

sobre o primeiro amor

A bola corria lentamente pelas pedras da calçada, deformada pela sua própria natureza. Uns pezitos descalços seguiam no seu encalço. Os calções muito curtos deixavam a descoberto os joelhos marcados. À paragem da bola um momento de concentração que travou as gargalhadas que o antecedera. O calcanhar eleva-se ligeiramente, para dar o balanço necessário à força que tinha que ser exercida no pontapear daquela bola. Ia na velocidade máxima, quase uma velocidade cruzeiro que teria feito chegar a bola às estrelas e, no seu regresso, trazer o brilho infinito nos olhos daquela menina que, parada junto à beira da estrada, sorria para mim, na ânsia da minha conquista. Mas aquele piso enviesado colocou-se à frente do meu pé. Não sei se senti mais dor ou vergonha. A bola jazia no mesmo local, nem o vento a tinha feito mover-se. Eu caído no chão chorava agarrado ao meu dedo do pé. A menina, com as mãos na boca, correu a chamar a minha mãe. Gritava eu e gritava ela. Vês este dedo sem unha? Foi

Sonhos

Há sonhos que valem a pena. Qual? O teu, o teu e o teu. Sim, os sonhos valem a pena. Dão-nos alento, força e coragem. Também nos fazem sentir frágeis e inseguros. Mas é mesmo assim. Todos temos sonhos, mesmo que não os contemos a ninguém, mesmo que não o saibamos bem, mas todos temos sonhos. Na forma mais bonita diz-se que “o sonho comanda a vida”, mas a verdade é que na maior parte dos casos é a vida que comanda os sonhos e que os vai moldando, para que melhor se ajustem à nossa vida. As obras nascem dos sonhos, as pessoas também. Mesmo aquelas que já existem na terra dos vivos podem nascer, podem renascer, tudo por um sonho. Depois há os sonhos que temos que deixar partir, carregados com a desilusão e com as batalhas perdidas. Não, não é cobardia, nem sinal de fraqueza. Desistir de um sonho é, não raras vezes, sinal de inteligência. É duro e difícil. Não sei se será mais duro desistir do que continuar a lutar. Como o restolho, tem que ser. E um novo há-de nascer. E voltaremo

Onde estás?

Entristece-me a tua ausência. Pode parecer uma dor pequenina que no passar dos meus dias se dissolveria com a vida, mas não é. É uma dor gigante do tamanho do que te suporta. Perdi-te. Quando foi que te perdi? Não sei o dia nem a hora. Há dias pareceu-me ver-te ao longe, camuflada na noite, mas era apenas um vislumbre de ti. Não eras tu no teu todo. Partiste sem avisar, perdida na penumbra dos dias mais cinzentos. Tive medo. Tenho medo. É assustadora a tua ausência na minha vida, nas nossas vidas. E os dias vão passando e as pessoas vão-se esquecendo de ti, da tua existência. Oh, que saudades dos teus sorrisos, dos teus abraços, das tuas mãos e das tuas palavras doces. Fizeste-me acreditar que era possível mudar o mundo. Sim, teríamos um mundo melhor. E eu lutei ao teu lado no entusiasmo da juventude… mas tu… de mansinho desapareceste. Sei que muitos, como eu, sonham encontrar-te nos dias, nas horas. Mas perdeste-te. E talvez não saibas o caminho para casa. O caminho para o c

saudades

Tenho saudades daquela voz. Era uma voz suave mas forte, que alimentava a esperança, mesmo na aspereza das palavras. Há vozes que nos marcam. Há vozes que queremos continuar a ouvir, mesmo depois de se terem calado. Recordo-a. Terna e confiante. Algumas vozes trazem a força consigo. Aquela era uma dessas vozes. Perco-a agora no tempo, anseio por ouvi-la, mas não posso. Já vos aconteceu? Estarem num lugar e faltar lá uma voz. Há vozes que não queremos calar. Desejamos que continuem a inundar o nosso dia, a nossa vida. Mas algumas calam-se. E na nossa mente não as conseguimos ouvir, mesmo que instantaneamente sejamos ludibriados pelo próprio anseio. Há vozes que não esquecemos, que seríamos capazes de reconhecer em qualquer parte do mundo, no meio de uma multidão. A voz da nossa mãe, dos nossos filhos, dos marido e esposas, dos pais e avós, dos amigos. Até algumas vozes que ouvimos diariamente na televisão se tornam parte integrante da nossa playlist de vozes. E depois há vozes q