Avançar para o conteúdo principal

Água fervente




Li há dias uma história que  rezava mais ou menos assim:
Certo dia, uma rapariga foi ter com a sua avó muito triste e revoltada com algumas situações da sua vida. A avó ouviu-a atentamente. Sem nada dizer dirigiu-se à cozinha, e a neta seguiu-a. Colocou três panelas de água a ferver, numa colocou cenouras, noutra ovo e noutra café. Ao fim de vinte minutos desligou o lume. Deu a cenoura à neta e disse-lhe para ela tocar e sentir a cenoura. Ela sentiu que a cenoura estava mais macia do que antes de ferver. Fez o mesmo em relação ao ovo e a neta notou que estava mais duro, depois de ferver. Quanto ao café exalava um aroma magnífico e tinha deixado o seu sabor na água. Tal como nas adversidades da vida, a água tinha amolecido uns, tornado mais duros outros  e sido alterada por outros. No final a avô perguntava qual dos ingredientes a neta preferia ser, para lidar com a água fervente da sua vida no momento.

Fiquei a pensar no assunto. De facto há situações na nossa vida que nos põem tão frágeis capazes de quebrar e outras que nos fazem tão duros que somos capazes de levar tudo à nossa frente. Poucas vezes temos a capacidade de alterar o sabor da amargura, de lhe dar novos aromas, novas cores e texturas. Mas faltou, quanto a mim, analisar um elemento importante, a água fervente. Quantos de nós são capazes de pôr água na fervura? Preferimos adicionar água a ferver para o borbulhar ser mais intenso, mas muito frequentemente este intenso borbulhar salta e acaba por nos queimar. E vós quem sóis?

-----
Texto: Susana Silva
Imagem: Fancycrave

Comentários