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Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2018

E depois dos finais felizes?

Ao olhá-lo sentiu um aperto no peito e um assombramento. Fixou-se nos seus pés e nas suas pernas para não tropeçar. Deixou a dança terminar e afastou-se graciosamente da porta, desatando a correr logo que sentiu que ninguém a poderia ver. Fechou-se na enorme Biblioteca batendo a porta e ficando atrás como que a segurá-la, quando quem precisava de ser segura era ela mesma. O medo deu lugar a um pânico descontrolado que culminou num choro compulsivo que aumentava de intensidade à medida que se deixava escorregar pela porta. A música ao fundo, os risos e o barulho de festa infestavam o seu pensamento. Que estava a fazer? Quem era? O que iria ser de si? No instante anterior tinha mais do que alguma vez sonhara e agora todas as dúvidas assolavam o seu ser. Não podia casar com aquele homem, não o conhecia. O rosto belo, o ouro e o romantismo haviam toldado a sua razão. Tinha que fugir. Tinha que arriscar. Do outro lado da porta um bater suave: toc toc. Não abriu porque nem o ouv

O carnaval da vida

No passado domingo, enquanto via um desfile de carnaval ouvi um senhor a dizer: “oh! Tudo contente a desfilar, depois voltam todos para as vidinhas tristes”. Pois, parece que é mesmo assim. Lamentos e pesares por não podermos viver, festejar, expressar a alegria. Já sentiram que ofendiam alguém por expressar a alegria? Não é tão raro quanto isso, pensei que já vos podia ter acontecido. Ali aconteceu. A alegria, contagiante, por sinal, dos foliões ensombrava o pesar daquele homem, que quase, quase se deixava infetar. A festa, a alegria, são importantes. Oh, pois são, ou tornaremo-nos todos, ou os que ainda não o são, velhos do restelo a agoirar o pior da vida. A vida são dois dias e carnaval são três. E está certo. Festejam-se três dias por cada dois de vida. Gosto da ideia. E é mesmo assim. Os dois dias da nossa vida são o nascimento e a morte, ou, pelo menos, é o que ficará nos registos oficiais da maioria de nós. Mas antes de nós nascermos já havia celebração pela nossa vinda.

E vice-versa...

Antes de tudo vai, ou fica, mas sente Riscando o que da tua vida te afasta Rabiscando os teus sonhos em papéis coloridos Imagina-os, sente-os, vive-os Sabendo os teus caminhos são só teus Caminha sem medo Arrisca (instruções: como na vida, às vezes temos que ler as coisas de trás para a frente. Leiam agora o texto de baixo para cima) ---- Texto: Susana Silva

Não esqueceis

Heróis em mar de chamas, navegando sobre o chão que escapa e deambulando sob o céu que desaba. Rostos negros de olhos cor de fogo, de lágrimas de sal, cristalizado. A alma chamuscada pelo inferno, que existe bem perto, vós bem o sabeis. Sentir o seu ardor entorpecidos pela valentia que vos brota do coração. Sóis heróis sem medalhas ao peito, levados em braços pela exaustão, chorais lágrimas que não tendes. Gritais mudos a um mundo que não vos quer ouvir. Trazei oh céus o vosso fino orvalho lavai este manto negro que nos cobre, enquanto abutres se pavoneiam em sorrisos solidários falando da esperança oculta em braços cruzados que não se estendem. Lavai os nossos corpos inertes, e fazei deles brotar pequenos rebentos de esperança. Uma nova árvore nascerá daquela que jaz, hoje, nas cinzas. E assim, diluirá o intenso desalento por um povo conduzido por mãos retraídas, braços cruzados e rostos pesarosos. Oh nobre povo que vos escapa o verde fugindo-vos dentre as mãos chamuscadas…

Era uma vez (ou é todos os dias)

Jo acordou e deu logo um salto de entusiasmo. Sentia que ia ser um dia especial. Os olhos da mãe brilharam ao vê-lo sorrir e alastraram esse sorriso pelos restantes habitantes daquele espaço. -Vou para a escola, mamã… Disse, enquanto se agarrava ao pescoço da mãe para lhe dar um beijo. Ela demorou o abraço, apertando-o contra si, enquanto a lágrima que rolava pelo seu rosto se escondia no pescoço. - Espera, meu pequeno príncipe. Hoje é mesmo um dia especial. Tenho aqui um presente para ti. Os olhos do pequeno Jo abriram-se e o entusiasmo tomou conta de si, de tal modo que não conseguiu evitar dar pulinhos de alegria. A mãe entregou-lhe nas mãos um pequeno embrulho castanho, sem laço… mas o que importava o laço? Já quase se esquecera que os presentes vinham com laço. Abrindo-o vagarosamente, prolongava o entusiasmo, a surpresa e a alegria que sentia, ao desembrulhar um lápis e uma borracha em forma de Mickey. - Obrigado mãe. Obrigado!!! É o melhor presente do mund

Comova-se

Comova-se e chore!! Comova-se com a gentileza, a partilha e os abraços Chore de alegria, de felicidade, de êxtase. Comova-se com uma mão estendida que dá Comova-se quando se estende ao outro chore quando ele lhe agradece chore quando diz “de nada”. Comova-se com a surpresa, e chore. Chore ao receber uma notícia feliz e comova-se. Comova-se com a vida. Chore com saudade boa. Comova-se e chore, regue este chão seco com lágrimas felizes, e sorria, com cara engelhada de comoção. Ficará belo e alcançará a infinita sabedoria da vida. ---- Texto: Susana Silva Imagem: pixabay

o teu beijo

Que perene esse teu beijo. Ajustado entre os sorrisos contidos e as faces coradas beijas-me em fuga, como se algo te pudesse prender para não mais te largar. Como tens razão, como anseio ter-te em meus braços entrelaçados, encontrados. Os sons da rua parecem a todos distrair, mas não a mim, nem a ti, que o vejo no brilho do teu olhar escondido, nos teus lábios intensos e no rubor da tua pele. Toco-te na mão, com  a minha, muito ao de leve e sinto que sentes o mesmo arrepio que ascende pelo meu corpo e não se dissipa no ar, quente… ou talvez frio, nem sei precisar. A tua mão estava gelada, e petrificada ficou na ânsia de um novo toque. E eu não te fiz esperar, amparei-te a mão. Nos dias seguintes amparei-te o rosto nos beijos em que me dava. Que perene esse teu beijo, que ainda agora se afastou de mim, e como uma onda te fez aproximar novamente. Beijo-te… ---- Texto: Susana Silva Imagem: Pixabay

A bola rola na calçada

A bola corria lentamente pelas pedras da calçada, deformada pela sua própria natureza. Uns pezitos descalços seguiam no seu encalço. Os calções muito curtos deixavam a descoberto os joelhos marcados. À paragem da bola um momento de concentração que travou as gargalhadas que o antecedera. O calcanhar eleva-se ligeiramente, para dar o balanço necessário à força que tinha que ser exercida no pontapear daquela bola. Ia na velocidade máxima, quase uma velocidade cruzeiro que teria feito chegar a bola às estrelas e, no seu regresso, trazer o brilho infinito nos olhos daquela menina que, parada junto à beira da estrada, sorria para mim, na ânsia da minha conquista. Mas aquele piso enviesado colocou-se à frente do meu pé. Não sei se senti mais dor ou vergonha. A bola jazia no mesmo local, nem o vento a tinha feito mover-se. Eu caído no chão chorava agarrado ao meu dedo do pé. A menina, com as mãos na boca, correu a chamar a minha mãe. Gritava eu e gritava ela. Vês este dedo sem unha? Foi

Sonhos....

Há sonhos que valem a pena. Qual? O teu, o teu e o teu. Sim, os sonhos valem a pena. Dão-nos alento, força e coragem. Também nos fazem sentir frágeis e inseguros. Mas é mesmo assim. Todos temos sonhos, mesmo que não os contemos a ninguém, mesmo que não o saibamos bem, mas todos temos sonhos. Na forma mais bonita diz-se que “o sonho comanda a vida”, mas a verdade é que na maior parte dos casos é a vida que comanda os sonhos e que os vai moldando, para que melhor se ajustem à nossa vida. As obras nascem dos sonhos, as pessoas também. Mesmo aquelas que já existem na terra dos vivos podem nascer, podem renascer, tudo por um sonho. Depois há os sonhos que temos que deixar partir, carregados com a desilusão e com as batalhas perdidas. Não, não é cobardia, nem sinal de fraqueza. Desistir de um sonho é, não raras vezes, sinal de inteligência. É duro e difícil. Não sei se será mais duro desistir do que continuar a lutar. Como o restolho, tem que ser. E um novo há-de nascer. E voltaremos

Onde estás...?

Entristece-me a tua ausência. Pode parecer uma dor pequenina que no passar dos meus dias se dissolveria com a vida, mas não é. É uma dor gigante do tamanho do que te suporta. Perdi-te. Quando foi que te perdi? Não sei o dia nem a hora. Há dias pareceu-me ver-te ao longe, camuflada na noite, mas era apenas um vislumbre de ti. Não eras tu no teu todo. Partiste sem avisar, perdida na penumbra dos dias mais cinzentos. Tive medo. Tenho medo. É assustadora a tua ausência na minha vida, nas nossas vidas. E os dias vão passando e as pessoas vão-se esquecendo de ti, da tua existência. Oh, que saudades dos teus sorrisos, dos teus abraços, das tuas mãos e das tuas palavras doces. Fizeste-me acreditar que era possível mudar o mundo. Sim, teríamos um mundo melhor. E eu lutei ao teu lado no entusiasmo da juventude… mas tu… de mansinho desapareceste. Sei que muitos, como eu, sonham encontrar-te nos dias, nas horas. Mas perdeste-te. E talvez não saibas o caminho para casa. O caminho para o c

Obrigado

É dia internacional do obrigado. Fiquei impressionada por tal. Desconhecia. Mas fiquei a pensar no assunto. Sim, há muitos obrigados a dizer. Pensei no assunto enquanto lia, no facebook, o obrigado emocionado da A à família, escrito enquanto os seus pais viam a telenovela, sós, em casa, aguardando o telefonema da filha, que nesse dia não chegou. Pensei no assunto enquanto lia o comentário comovente do B aos amigos, escrito enquanto a mulher acabava de arrumar a cozinha, estender a roupa, vestir os miúdos e adormecê-los, e o B lá continuava em agradecimentos, nomeadamente à família, mas a sua boca não os poderia proferir, não naquele dia em que o seu orgulho toldava a vontade de dizer obrigado. Dizemos muitas vezes obrigado, há até duas expressões bem portuguesas que incluem tal palavra: o “obrigadinho”, que é como quem diz, “podias ter-me dito” e o “olha! obrigada!” que, com a devida entoação significa “não precisavas de ter dito, eu já sabia”. Depois dizemos obrigada, o verdadei

Desejos novos... Hábitos velhos...

Ainda ontem, logo nos primeiros minutos do ano, Joaquim postou no facebook uma mensagem que dizia “um feliz 2018 para todos, que seja de muita saúde, paz e amor!”. A acompanhar uma imagem da mulher e da filha, abraçados, sorridentes, com o fogo de artifício como pano de fundo. Hoje, Joaquim acordou aborrecido, “deveriam haver férias para descansar das férias”. Sem vontade de ir trabalhar levantou-se, tomou um duche e respondeu com um “- Ok” à esposa que lhe disse que hoje poderia ser ela a levar a filha à escola. Entretanto saiu e para agudizar o seu “bom humor” enfrentou um trânsito infernal e chuva. Resmungou da sua vida e não se escusou de apitar barulhento quando o senhor do carro da frente, distraído, não acelerou mal o semáforo ficou verde. “- Lerdas.” Chegou ao trabalho e colocou no rosto um mal disfarçado sorriso, com que atendeu os clientes, que (logo hoje) estavam especialmente aborrecidos. “- Mas o que se passa com esta gente mal humorada?" No fim do dia, Joa

Em 2018...

Em 2018… Diga não mais vezes deixe louça por lavar jante no sofá ria à gargalhada caminhe descalço dance à chuva dê um mergulho no mar leia um livro plante uma árvore olhe para as estrelas ouça os pássaros simplifique durma uma sesta à sombra de uma árvore surpreenda um vizinho agradeça mais viaje sem destino controle menos viva mais faça voluntariado abrace mais chore mais emocione-se mais Diga: amo-te mais vezes Diga: preciso de ti Acredite!!! Acredite-se!!! Viva. Viva 2018!