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A mostrar mensagens de junho, 2020

estava tudo tão quieto

Estava tudo tão quieto menos o meu coração que batia acelerado. A minha respiração descompassada fazia antever o momento final que surgiria como o momento alto de um filme que já fizera rodar vezes sem conta na minha cabeça. O silêncio da noite escondia o medo que corria nas minhas veias, ouviam lá ao longe as bombas sem cessar e eu naquele barco, escuro como breu, sentia a mão da minha mãe que me apertava até doer. Mas estava bem assim. Cada segundo parecia demorar horas e agora uma chuva miudinha escorria pelos nossos cabelos e misturava-se na nossa pele retirando dela o pó daquela terra, que era a minha, e que agora deixava, em angústia, para trás. Ao longe viam-se umas luzinhas muito ténues que pareciam multiplicadas pela chuva que caía e que, a mim, me pareciam as estrelas que observava do telescópio que tinha no meu terraço, ao colo do meu pai que trazia para casa o trabalho de astrónomo. O meu pai… que num dia saiu do abrigo para ir buscar comida e nunca mais voltou. Q