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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2018

Loucura boa

- Era um café por favor… - Com certeza… - Só mais uma coisa, por favor, pode olhar para mim? A senhora olhou para mim com ar quem me ia esmurrar e incrustar a minha barba pente dois no interior da minha pele. - E… é só!! - acrescentei, com um sorriso que, convenhamos estava mesmo a pedi-las. Enquanto a senhora foi dentro do centenário estabelecimento, levantei-me num salto e convidei o mimo que fazia de estátua, mesmo à frente da esplanada para se sentar comigo na mesa. Ele relutante, mas suficientemente louco, aceitou, mesmo a tempo da chegada do meu café. - São três euros, por favor. Respondeu-me a senhora olhando-me nos olhos e sorrindo. Eu estagnei surpreendido pelo preço do café. À minha indignação a senhora respondeu prontamente: - É 1€ pelo café e 2€ por olhar para si, hoje estamos com promoção e o sorriso é grátis. Soltei uma gargalhada pela resposta à altura. E acrescentei: - Então traga-me mais dois cafés e duas natas, é para este meu amigo

A dança

A música fazia-se ouvir por entre a porta entreaberta. Uma melodia de bailarico misturada com risadas e gritinhos. Ele, sentado no seu cadeirão olhou-a com amor. Ela dormitava, deitada naquela cama de sempre, alheia a tudo. Pela frecha da porta a luz amarela que entrava era interrompida por sombras humanas das pessoas que passavam naquele corredor com passos apressados. Ele esticou-se para tocar na mão da sua amada, mas quase que caia do cadeirão, pelo que depois de um suspirou, recostou-se contentando-se com a visão perfeita que acolhia nos seus olhos. Sabia que por detrás daquelas pálpebras cerradas, uns olhos azuis cheios de vida emanavam a felicidade de uma vida que parecia jazer naquele inerte corpo. Ela parecia sentir-lhe os pensamentos porque sorria, marcando ainda mais a sua cara engelhada pela vida. Tantas engelhas felizes e até a cicatriz da testa, feita pelo filho António que, com os seus três anos, pegou num copo e partiu-o mesmo no meio da testa da mãe. Que aflição q

Dói

O que dói? Dói a pele de onde não consigo sair para ir em busca de mim mesmo. Dói o sentido inverso da vida que não encontra a sua direção. Dói o tempo que não para e não sara. Dói a ausência de mim mesmo. Escondido por entre a luz do dia faço noite em tudo o que toco, em tudo o que sinto. Do sol faço noite e da alegria a tristeza. Os meus dias são inúteis e as minhas mãos paradas e vazias, os meus pés teimam em não andar e os meus olhos ainda conseguem ver mas sem entender. Dói-me o tempo que ocupo com a vida vã e que gasto e desgasto em desamor. Dói este mar de saudade daquilo que nunca fui e dos sonhos que não persegui e que continuo, no meu silêncio, a negar. Construo castelos de um dissipado nevoeiro que envolve todo o meu ser e nele esconde a essência do que me tornei. Sei-o de cor. Sei-o, e dói-me sabê-lo. E nesta inércia continuo a procrastinar com desculpas estéreis e escusadas que ninguém quer ouvir. A ignorância nos outros olhos, a indiferença nas outras p