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Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2020

Vai ficar tudo bem?

Na mesa da cozinha pintavam o arco-íris numa folha de papel, mãe e filha, toda a família ali. A menina de 4 anos, concentrada mostrava amorosamente a língua que escapava por entre a sua boca sorridente que deixava antever a confiança que não conseguia conter. A mãe enchia os olhos de lágrimas a cada rabisco dos lápis de cor e lia sem parar o mote “vai ficar tudo bem” e o seu coração estilhaçava com cada palavra. O emprego por um fio, a filha para cuidar, a renda para pagar e as contas que não paravam de chegar, a despensa a ficar vazia e a alma a perder as forças, a perder a fé. Pintava sem ver até que foi chamada à atenção pela filha: - Mãe, estás a pintar fora das linhas… Vá lá, tem de ficar perfeito. Nesta imperfeição da vida, neste assalto, via pela janela grupos de pessoas que se passeavam, alheios ao que dentro de portas se estremecia. Era medo que sentia, como nunca antes. Sabia que não estava, nem iria ficar, tudo bem. Nas janelas da vizinhança o mesmo lema “Vai ficar

Domingo de Ramos em tempo de pandemia

"Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?" O clamor de Jesus na cruz e é o mesmo que, hoje, brota dos nossos corações feridos por esta pandemia que nos circunda. O temor faz sobressair a sensação de abandono e ao vermos, em tantos países as pessoas sós na maior das suas fragilidades é este o grito que sai das nossas gargantas silenciadas. Estamos sós.  "Pai, nas Tuas mãos entrego o meu Espírito" O último fôlego de Jesus na cruz vai para a entrega confiante. No meio do tumulto e de um mundo virado do avesso, que sejamos capazes de confiar entregando-nos com fé aquilo que é para nós. E sorte dos que têm esta fé, pois podem entregar-se com dor, mas serenidade, nas mãos dos que são mãos de Deus, nas palavras dos que dizem as palavras de Deus, na oração no silêncio, porque quando nos parece que nada mais podemos fazer, só nos resta rezar e confiar. Que nunca nos falte a fé e a entrega, pois sabemos que nunca estaremos sós.  Estamos com fé. 

Porquê o Covi-19?

Na nossa incessante busca de justificações questionamos porquê isto? Porquê agora? Porquê? E na nossa desenfreada demanda de respostas vamos atirando pedras para o charco dizendo que foi a vontade de Deus, que o Universo está a castigar-nos e que a Terra precisava de descansar. E vamos reconhecendo os nossos erros como a criança que tenta perceber o seu castigo depois do prejuízo causado. Mas talvez não existam explicações tão filosóficas, talvez seja assim só porque sim. Sim, que o porque sim, pode ser resposta de vez em quando todos o sabemos. O problema é que sempre estivemos habituados ao controlo de tudo e de todos e de repente não conseguimos controlar a situação, as vidas fogem-nos entre os dedos e as opções para as salvar também. Mas nós somos só mais um elemento da natureza e se percebessemos isso facilmente entenderíamos o porquê. Somos as gerações que criam e destroem a gosto, que escolhem, que vivem em liberdade. Deixámos de ter predadores e somos o topo de uma teia ali

estou de volta

Longos dias me têm afastado deste meu projeto tão querido. No entanto a vontade de escrever não se afasta nunca. Volto agora quando o mundo pára por ordem de uma pequena entidade que a todos faz temer. É a pandemia que víamos nos filmes de ficção científica e que hoje faz parte dos nossos dias. Hospitais de campanha, camas em longas filas em estádios, pessoas a sucumbir à doença e milhões retidos em suas casas são imagens que jamais sairão das nossas recordações. A solidariedade contrasta com o egoísmo de alguns, a verdadeira essência de cada pessoa é revelada como se se tratasse do final de uma novela. Mas é a vida real, e isso torna tudo ainda mais inacreditável. Acredito que cada um de nós pode fazer a diferença, por pequena que seja, por isso, criei um projeto paralelo a este para partilhar com outros escritores que quisessem juntar-se a mim na sobrevivência pela escrita. Iniciou no primeiro dia da quarentena e continuará por tempo indeterminado... chamei-lhe escrevivência  ,