Na mesa da cozinha pintavam o arco-íris numa folha de papel, mãe e filha, toda a família ali. A menina de 4 anos, concentrada mostrava amorosamente a língua que escapava por entre a sua boca sorridente que deixava antever a confiança que não conseguia conter. A mãe enchia os olhos de lágrimas a cada rabisco dos lápis de cor e lia sem parar o mote “vai ficar tudo bem” e o seu coração estilhaçava com cada palavra. O emprego por um fio, a filha para cuidar, a renda para pagar e as contas que não paravam de chegar, a despensa a ficar vazia e a alma a perder as forças, a perder a fé. Pintava sem ver até que foi chamada à atenção pela filha: - Mãe, estás a pintar fora das linhas… Vá lá, tem de ficar perfeito. Nesta imperfeição da vida, neste assalto, via pela janela grupos de pessoas que se passeavam, alheios ao que dentro de portas se estremecia. Era medo que sentia, como nunca antes. Sabia que não estava, nem iria ficar, tudo bem. Nas janelas da vizinhança o mesmo lema “Vai ficar