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Do livro "Ao som dos tambores"



"Naquela noite, eu estive a estudar até tarde, porque tinha teste de filosofia no dia seguinte. Passava da meia-noite quando me deitei, e ainda não tinha adormecido verdadeiramente quando ouço a porta de casa a bater, pelo que despertei sobressaltada. Os meus pais e a minha irmãzita tinham ido dormir há muito, talvez fosse o meu irmão mais velho. Concentrei-me para tentar desvendar mais algum barulho, mas pouco ouvi, apenas da rua parecia-me ouvir um barulho abafado que não conseguia identificar. Muito lentamente abri o estore do meu quarto e vi algo muito estranho. Todos os meus vizinhos estavam a sair de casa e, na estrada, caminhavam várias pessoas, muitas delas ainda de pijama, todas no mesmo sentido. Assustada corri ao quarto dos meus pais e quando vi a cama deles vazia, tal como a da bebé, decidi sair também para a rua.
Pedro aproximou o puff da colega, ficando com os joelhos quase a tocar nos dela. Instintivamente ela encostou-se para trás no sofá e direcionou o seu olhar para Gil que sentado sobre a perna a ouvia com muita atenção
 – Quando cheguei à rua – continuou – vi que ninguém falava, e ninguém virou a cara para olhar para mim, mesmo quando deixei a porta bater. Curiosa, mas cheia de medo segui toda a gente. Ao longo do caminho eram cada vez mais os que se juntavam àquela multidão, que espaçada seguia num passo rápido em direção à serra. E não abrandavam nem quando passavam por zonas completamente escuras ou ingremes, apenas se ouviam os passos ritmados. Caminhamos durante algumas horas, não sei bem. Até que passamos pela aldeia onde vocês me encontraram e à janela daquela mesma casa estava uma senhora já idosa que gritava para não irmos, que era o fim do mundo, para acordarmos, que tínhamos escolha. Quando olhei para a janela, ela disse-me a chorar: “menina não vá, venha para aqui, por favor”. Mas eu segui, queria tentar descobrir os meus pais, mas a multidão era cada vez maior. Até que poucos metros à frente, tínhamos acabado de sair da aldeia, o som dos tambores era ensurdecedor e percebi que marcava o ritmo das passadas da multidão. O ritmo era cada vez mais intenso, mas as pessoas mantinham a mesma expressão, e não demonstravam cansaço, apesar de a pele transpirar em pinga. Eu já não conseguia acompanhar, pelo que decidi esconder-me num campo que ficava abaixo do nível da estrada e que era delimitado por uns arbustos.

Os dois rapazes ouviam incrédulos e amedrontados a história que ela contava, quase conseguiam visualizar nas suas cabeças o espetáculo que Teresa descrevia. O coração de ambos palpitava a mil, e estavam ambos a segurar uma das mãos da rapariga, que parecia muito frágil agora, com a voz quase a desaparecer."

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