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Do livro "O melhor está para vir"


"Entrámos e a minha mãe pediu dois bilhetes. A senhora motorista verbalizou qualquer coisa que não consegui entender, enquanto a minha mãe examinava o interior do autocarro e o exterior num medo imenso de um encontro indesejado. A senhora motorista olhou para a minha mãe, que concentrada na sua análise se esquecera de esconder o rosto.
- Precisa de alguma coisa? - disse a senhora de um cabelo tão loiro que brilhava mesmo sob a escuridão que ainda se fazia sentir aquela hora, com olhos verdes e voz suave como a brisa, enquanto segurava com delicadeza a mão da minha mãe.
Estou certa que as pernas da minha mãe quase fraquejaram naquele momento.
- Preciso de tudo. - respondeu começando um pranto rapidamente contido pela chegada de outros passageiros que faziam fila atrás de nós.
A senhora motorista deu dois bilhetes à minha mãe e recusou, disfarçadamente o dinheiro para os pagar. Sentámo-nos quase no fundo do autocarro. Desta vez, eu ia do lado da janela. O autocarro arrancou logo de seguida e a minha mãe voltou a abraçar-me e a puxar-me para ela.
- Ai… - gemi, pela dor que a fricção do seu braço nas minhas costas me causou.
- Desculpa, meu amor, desculpa, - disse-me - ainda te dói muito… eu sei…
- Não, mãe, já não me dói quase nada. - respondi com um falso vigor na voz, enquanto aquela dor que me dilacerava a carne era agora convertida em esperança pela nova vida que estávamos prestes a iniciar.
Eu estava muito cansada. Não dormia desde que saímos de casa, por isso, acabei por adormecer. Adormeci e sonhei com castelos, príncipes e princesas."

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