"Pedro atento à estrada,
embora estivesse mais preocupado com o carro, pois os travões não lhe pareciam
grande coisa, e o jipe chiava como se já não pisasse asfalto há vários anos.
Sempre que se
aproximavam de uma povoação Pedro apertava a buzina algumas vezes, para que, se
alguém ali estivesse, tivesse oportunidade de se mostrar, mas o veículo nem
parava, enquanto os ocupantes olhavam pelos retrovisores. Iam observando a
paisagem, e relembrando o que costumavam ver, quando por aqui passavam. A maior
parte das casas eram de pedra e tinham um ar bastante escuro, com as janelas de
madeira com uns quadrados em vidro que deixavam ver cortinas de renda branca.
Numa destas casas típicas, Gil pareceu ver um rosto, que desapareceu atrás da
cortina:
– Pára!!! – Gritou de tal modo que assustou Pedro
– Que foi? Estás maluco?
– Pedro tinha parado o carro, o que não estava nos seus planos, mas o susto foi
tal, que instintivamente carregou no travão
– Vi ali alguém. Ali
naquela casa, estava alguém a espreitar e escondeu-se quando nós passávamos. – Segurando
o bebé saiu do carro, e dirigindo à janela gritou – Está aí alguém?
Não teve sequer
oportunidade de olhar, pois o seu grito assustou de tal modo o bebé, que este
desatou num pranto. Gil abanou-o, mas com o entusiasmo não mediu a força e fez
com que o bebé gritasse ainda mais alto. Dirigiu-se ao jipe, onde estava Pedro,
que cumpria a sua promessa de não abandonar o veículo. Abriu a porta do lado do
pendura e estendeu o bebé a Pedro, que esticou os braços para o receber, mas
que ficou imóvel ao olhar para trás. Com os olhos fixos na entrada da casa,
levou a mão à boca aberta e disse:
– Não pode ser!
O bebé continuava a
chorar, quando Gil olhou para trás e viu uma rapariga, que parecia ser da idade
deles, com uma saia preta que parecia da avó e uma camisola preta de malha que
também lhe ficava muito larga, com o cabelo muito desgrenhado, o rosto marcado
pela seriedade era rasgado por uns olhos claros que pareciam de gelo. Gil quase
teve que esfregar os olhos, e dando um passo na direção da rapariga disse:
– Teresa?"Do livro "Ao som dos tambores"
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Texto Susana Silva
Imagem: pixbay
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