"Subitamente acordam com
o retorno do barulho, desta vez, ensurdecedor dos tambores. Teresa entrou em
grande ansiedade, parecia-lhe diferente desta vez, era tal qual na noite do
desaparecimento de toda a gente. Rapidamente Pedro, trazendo Dinis ao colo
chegou ao quarto e, entrando sem bater, sentiu-se constrangido por encontrá-los
ali juntos. Mas nenhum deles teve tempo para pensar muito no assunto, rapidamente
foram espreitar à janela e viram as ruas completamente vazias e o céu sem
nuvens.
Eles ali ficaram à
espera que o som terminasse. Os seus corações batiam aceleradamente, do rosto
de Teresa irrompiam lágrimas sem parar, e o pânico estava estampado nos seus
rostos. Dinis tremia nos braços de Pedro, mas não chorava, com os olhos muito
abertos e a chupeta na boca, parecia o mais sossegado.
O som parecia pairar
agora sobre eles, parecia vir da rua. Gil voltou à janela para espreitar e
ficou boquiaberto com o que viu.
– O que foi?
– O que vês?
Ao silêncio de Gil, os
outros aproximaram-se da janela e viram aquele desfile de pessoas que Teresa
anteriormente tinha descrito. Milhares de pessoas marchavam ao som dos tambores
e seguiam pelas ruas fora. Era conforme Teresa tinha dito, velhos e novos,
todos mantinham o mesmo ritmo, rápido para a maioria deles. Cada pessoa seguia
completamente nua, os corpos sujos e com manchas na pele, seguiam com as mãos cerradas,
mantendo o rosto virado para a frente, e nem os cães que ladravam em direção àquele
cortejo sem fim, faziam abrandar uma única pessoa. Seguiam em diversas
direções, ocupando todas as ruas. Era um espetáculo gigantesco. Os rapazes
estavam vidrados junto à janela, mas Teresa tinha deslizado para o chão e
chorava compulsivamente. Dinis tinha também começado a chorar, agarrado à perna
de Pedro, mas o ruído ensurdecedor dos passos e dos tambores impedia que o
choro se fizesse ouvir."
Do livro "O melhor está para vir"
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Texto: Susana Silva
Imagem: Susana Silva
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