Ainda ontem, logo nos primeiros minutos do ano, Joaquim
postou no facebook uma mensagem que dizia “um feliz 2018 para todos, que seja
de muita saúde, paz e amor!”. A acompanhar uma imagem da mulher e da filha,
abraçados, sorridentes, com o fogo de artifício como pano de fundo.
Hoje, Joaquim acordou aborrecido, “deveriam haver férias
para descansar das férias”. Sem vontade de ir trabalhar levantou-se, tomou um
duche e respondeu com um “- Ok” à esposa que lhe disse que hoje poderia ser ela
a levar a filha à escola. Entretanto saiu e para agudizar o seu “bom humor”
enfrentou um trânsito infernal e chuva. Resmungou da sua vida e não se escusou
de apitar barulhento quando o senhor do carro da frente, distraído, não acelerou
mal o semáforo ficou verde. “- Lerdas.”
Chegou ao trabalho e colocou no rosto um mal disfarçado sorriso,
com que atendeu os clientes, que (logo hoje) estavam especialmente aborrecidos.
“- Mas o que se passa com esta gente mal humorada?"
No fim do dia, Joaquim estava exausto, mas ainda tinha de ir
ao supermercado buscar fraldas, ou teria de ouvir a mulher a atazanar-lhe o
juízo. Uma imensidão de gente. “- Mas esta gente não tem casa para estar?”
Reclamava interiormente sem disfarçar o rosto resmungão. Mesmo a chegar à caixa
de pagamento uma criança atira os iogurtes para o chão iniciando uma birra, Joaquim
vê a cena e aproveita para acelerar o passo e passar à frente da mãe que
desesperada tenta acalmar a criaturinha. Joaquim ainda acrescenta um “- Ai se
fosse minha…” sussurrado.
Ao chegar a casa, senta-se à mesa, o jantar estava pronto.
Está sem paciência para ouvir a bebé, a mulher, a televisão. Deita-se mas não
adormece sem antes lamentar a vida mesquinha que tem.
Oh triste ano novo!!! De que valem tantos desejos novos em
hábitos velhos?
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Texto: Susana Silva
Imagem: Pixbay
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