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Era uma vez (ou é todos os dias)

Jo acordou e deu logo um salto de entusiasmo. Sentia que ia ser um dia especial. Os olhos da mãe brilharam ao vê-lo sorrir e alastraram esse sorriso pelos restantes habitantes daquele espaço.

-Vou para a escola, mamã…

Disse, enquanto se agarrava ao pescoço da mãe para lhe dar um beijo. Ela demorou o abraço, apertando-o contra si, enquanto a lágrima que rolava pelo seu rosto se escondia no pescoço.

- Espera, meu pequeno príncipe. Hoje é mesmo um dia especial. Tenho aqui um presente para ti.

Os olhos do pequeno Jo abriram-se e o entusiasmo tomou conta de si, de tal modo que não conseguiu evitar dar pulinhos de alegria. A mãe entregou-lhe nas mãos um pequeno embrulho castanho, sem laço… mas o que importava o laço? Já quase se esquecera que os presentes vinham com laço. Abrindo-o vagarosamente, prolongava o entusiasmo, a surpresa e a alegria que sentia, ao desembrulhar um lápis e uma borracha em forma de Mickey.

- Obrigado mãe. Obrigado!!! É o melhor presente do mundo.

O entusiasmo era verdadeiramente sentido. A mãe recordara o dia em que, poucos anos antes, lhe oferecera um trampolim, que ficou no jardim da antiga casa.

- Agora vou para a escola. Os meus amigos vão adorar…

Disse Jo, que dando mais um abraço à mãe saiu em corrida da tenda.
Chegado à escola, alguns colegas vieram na sua direção, de caras pintadas com cores, que contrastavam com as sombras cinzentas do pó que ocupava as suas roupas, as suas vidas. A professora sorria, os meninos corriam e saltavam e algumas voluntárias pintavam os rostos das crianças. Era dia da criança. Brincaram, cantaram e, no final, a professora entregou um presente a cada um. Jo abriu-o rapidamente, rasgando o papel, tal como todos os outros colegas. Cadernos de todas as cores estavam nas mãos daquelas crianças que sorrindo eram felizes.

O dia chegou rapidamente ao fim. No caminho para a sua tenda, Jo passou pela vedação que o recordou de quem era e de onde estava.


Era criança e estava no mundo.

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Texto: Susana Silva

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