É dia internacional do obrigado. Fiquei
impressionada por tal. Desconhecia. Mas fiquei a pensar no assunto. Sim, há
muitos obrigados a dizer. Pensei no assunto enquanto lia, no facebook, o
obrigado emocionado da A à família, escrito enquanto os seus pais viam a
telenovela, sós, em casa, aguardando o telefonema da filha, que nesse dia não
chegou. Pensei no assunto enquanto lia o comentário comovente do B aos amigos,
escrito enquanto a mulher acabava de arrumar a cozinha, estender a roupa,
vestir os miúdos e adormecê-los, e o B lá continuava em agradecimentos,
nomeadamente à família, mas a sua boca não os poderia proferir, não naquele dia
em que o seu orgulho toldava a vontade de dizer obrigado.
Dizemos muitas vezes obrigado, há até duas expressões bem
portuguesas que incluem tal palavra: o “obrigadinho”, que é como quem diz,
“podias ter-me dito” e o “olha! obrigada!” que, com a devida entoação significa
“não precisavas de ter dito, eu já sabia”. Depois dizemos obrigada, o
verdadeiro do agradecimento, nas mais variadas situações. Eu digo-o
frequentemente, à senhora que me serviu o café, ao que me atendeu no talho, e à
vizinha que desejou “saudinha”. Digo-o ao automobilista que parou para eu
atravessar na passadeira, e digo-o com um gesto, levantando a mão. São tantos
os obrigados que dizemos. Mas há alguns que vão além da palavra. Existem
obrigados que são um sentimento que, como tal, nos envolve de tal modo que todo
o nosso ser diz obrigada. Sabem do que falo. São mais raros. Mas acontecem e
mudam-nos. Falo daquele obrigado que nos estremece as entranhas, que nos traz
lágrimas aos olhos enquanto os nossos braços, num gesto quase involuntário de
uma vontade sem fim, envolvem e abraçam o outro. E por fim, ali muito juntos,
com a voz a tremer, lá conseguimos soltar um imensamente sentido obrigado. Este
obrigado muda-nos. Há obrigados que não se dizem só com palavras, nem com
gestos. Há obrigados que nos obrigam a usar todo o corpo numa gratidão que vai
além do que se vê e até do que se sente. E por esses obrigados, só posso dizer,
obrigado.
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Texto: Susana Silva
Imagem: pixbay
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