"Ao jantar perguntei finalmente à minha mãe:
-Porque
é que a Amália vai para o hospital?
A minha mãe fez um esforço
para me explicar da melhor forma possível para o meu entendimento da altura:
- Ela
tem um bichinho mau dentro dela e tem que o tirar. - fez algum tempo de
silêncio, até continuar - É
um bocadinho perigoso, mas ela é forte. E tu tens de ser forte por ela. Deves rezar
por ela e pelos pais dela.
- Se
é a Amália que está doente, porque é que tenho de rezar pelos pais dela? - perguntei, mas não obtive
resposta.
Comi então, em silêncio.
Depois de levantar a mesa, fui para o quarto. Queria chegar lá antes da minha
mãe. Precisava de ter uma conversa, em privado.
Fui direita à cómoda e tirei
o cruxifixo que lá estava. Ajoelhei-me ali, no chão, com aquela cruz na mão,
benzi-me e comecei a minha conversa:
- Olá
Deus, sou eu a Anita. Hoje quero pedir-te que cuides da minha amiga Amália. Ela
foi para o hospital para lhe tirarem um bichinho que ela tem dentro dela. Eu
não posso ir com ela, por isso preciso que tu vás. Fica lá ao lado dela e
dá-lhe a mão, que ela gosta. Cuida dela a todos os minutos. Não a deixes
sozinha… por favor. Ela é a minha melhor amiga. Eu gosto muito dela.
Levantei-me e pousei o
cruxifixo na cómoda novamente. Mas ainda me tinha esquecido de uma coisa.
Voltei a pegar-lhe, ajoelhei-me com pressa e continuei:
- Ah,
e cuida também dos pais dela… Mas não te esqueças da minha Amália.
Agora sim, tinha terminado.
Vesti o meu pijama, deitei-me na cama e rezei Ave-marias até adormecer."
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