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Dói



O que dói?
Dói a pele de onde não consigo sair para ir em busca de mim mesmo.
Dói o sentido inverso da vida que não encontra a sua direção.
Dói o tempo que não para e não sara.
Dói a ausência de mim mesmo.
Escondido por entre a luz do dia faço noite em tudo o que toco, em tudo o que sinto. Do sol faço noite e da alegria a tristeza. Os meus dias são inúteis e as minhas mãos paradas e vazias, os meus pés teimam em não andar e os meus olhos ainda conseguem ver mas sem entender. Dói-me o tempo que ocupo com a vida vã e que gasto e desgasto em desamor. Dói este mar de saudade daquilo que nunca fui e dos sonhos que não persegui e que continuo, no meu silêncio, a negar. Construo castelos de um dissipado nevoeiro que envolve todo o meu ser e nele esconde a essência do que me tornei. Sei-o de cor.
Sei-o, e dói-me sabê-lo.
E nesta inércia continuo a procrastinar com desculpas estéreis e escusadas que ninguém quer ouvir. A ignorância nos outros olhos, a indiferença nas outras palavras e o coração que dói. E uma alma que se apaga, extinguindo-se pelo sufoco desta dor.
E só eu sei. Só eu posso. Só eu quero.



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Texto: Susana Silva
Imagem: pixabay

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