Jorram lágrimas secas dos teus olhos e os teus ossos rangem
quando te encolhes desejando voltar ao ventre de tua mãe. O teu chão
desapareceu e tu levitas numa vida que já não é a tua temendo o recomeçar que
se impõem. Os dias são tempos infinitos e durante a noite, nos teus sonhos,
vives a felicidade que perdeste, mas o raiar do dia traz a certeza de que o
sonho se sumiu e a tua vida não pode voltar.
Nesta lentidão dos dias arrastas o teu corpo rastejando pelo
chão cheio de pedras angulosas que te dilaceram a carne e mesmo os que te
tentam levantar, tantas vezes, rasgam o que resta da tua alma. Desejas que a
alma te fuja do corpo mas uma força maior fá-la ficar. Não tens força, não tens
esperança, não sabes como será, mas o que importa?
Tudo sabias, tudo projetaste num destino que a vida não de
te deu. Tudo pensaste e esse projeto dói-te agora, de perdido, não esquecido.
Recomeçar é o único projeto que tens, mas sem início torna-se quase impossível
saber que estrada seguir, sabes que terás de ser tu a desbravar todo o caminho
pela imensa selva que à tua frente se apresenta.
Não temas. Estás armada com a melhor arma. Nada temas.
Dentro de ti brota o amor, que se transforma em couraça forte, em mãos livres e
pernas fortes. Dentro de ti existe aquele amor que não podes esquecer e que te
fará viver.
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Texto: Susana Silva
Imagem: Pixabay
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