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O tempo


O tempo. Esse é o maior culpado. Diz que não existe, que ninguém o tem, quando todos o possuem e  marcam. Dizia a vizinha de ao pé da fonte que a Micas esqueceu o abraço porque não teve tempo, morreu assim a avó, sem abraço quando o seu tempo acabou.
O tempo passa em passos desconcertantes com a nossa vontade. Não se pode parar, mas acelera quando não o queremos afrouxar. E neste passo de corrida grava-nos na memória aquilo que de melhor o tempo deixou. O tempo que estive contigo.
 Insatisfeitos com o tempo gritamos para que volte para trás e rogamos para que ande para a frente. Descontentes com o tempo que temos no agora. Oh tempo desgraçado, que fazes as palavras não saírem e prendes os braços para os abraços, amarras pernas para não irem e mãos para não fazerem, cerras os lábios para não sorrirem e franzes as sobrancelhas para não te perceberem.
Tens costas largas, ó tempo.
E na noite escura em que não falta o tempo, descobrimos que sempre tivemos o tempo necessário, mas dele fomos escravos. Rastejamos em busca de tempo numa vida inerte e conformada.
Que tempo te faz hoje?
Uma nuvem escura paira sobre a tua cabeça e deixas o sol que irradia de ti ficar escondido, na neblina que deixas envolver-te. E conformada com este tempo soltas queixumes num letárgico lamento que te adormece a vida.
É a hora! Faz bom tempo na tua vida. Telefona, combina o café, toca à campainha e surpreende com o teu abraço e rosto feliz, visita, oferece chocolates e come alguns pelo caminho rindo-te à chegada. Planta uma árvore ou só uma flor, faz-te no tempo que estás. Naquele em que existes e que só existe por ti.
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Texto: Susana Silva
Imagem: pixabay

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