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magia em mim

Há uma estranha magia em mim que aparece quando caio nos tropeções da vida. Há uma estranha cor em mim que surge nas noites escuras e densas. Há uma estranha vida em mim que nasce quando um desalento moribundo ocupa os meus dias. E nesta estranheza a normalidade de um sorriso que tudo oculta e faz acreditar que tudo o é, mesmo na sua inexistência. Há forças ocultas que me fazem sacudir o pó dos pés dos terrenos onde não quero estar e, sem olhar para trás, seguir numa escalada rumo ao oásis que me sei destinado. Neste caminho pinto de todas as cores a árida paisagem que tenho por companhia, desenhando os mais belos jardins e cursos de água que só eu sei e conheço. Escalando uma montanha, vou só, só eu, comigo própria. Contra o vento que se faz gelado, sinto-me sem arnês que me suporte. Mas uma estranha magia faz-me acreditar e seguir.
É o último dia. Finalmente cheguei ao topo da montanha e a imensa alegria que me transborda do peito fica nele contida, pois não há com quem seja partilhada. E, no dia mais feliz, choro…
Até que uma leve brisa me toca no ombro, uma suave voz me faz voltar o meu rosto para trás. É a primeira vez, desde que saí daqueles terrenos áridos, que me permito olhar para o princípio e para o caminho. Esta visão tira-me o fôlego. Um batalhão de pessoas segue o meu trilho, bebe nas águas cristalinas que desenhei no meu trajeto e descansa à sombra das árvores dos jardins que concebi. Na frente deste batalhão uma criança que de olhos muito abertos e sorriso rasgado me diz: “- obrigada por continuares sempre, por acreditares e criares.”
Há uma estranha magia no ar, que emana do âmago do meu ser e se espalha em cores pelo vale que deixei.

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Texto: Susana Silva (escrito para o blog páginas partilhadas)
Imagem: pixabay

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