Da minha janela vejo o grande e velho carvalho que na sua
sabedoria dança soltando gargalhadas ao deixar-se acariciar pelo vento, oiço
pássaros que chilreiam chamando a sua mãe que esvoaça por entre os ramos com
exímio controlo de voo. Vejo crianças, lá ao longe, que brincam no parque
soltando gritos de excitação e alegria e os seus pais que estendem toalhas no
chão para fazer um piquenique onde não faltam azeitonas nem morangos. Da minha
janela vejo o ancião que coça a sua barba comprida enquanto resmunga com as
pernas que se arrastam pela calçada. Da minha janela vejo-te a ti, meu amor, de
lábios pintados e saia vermelha rodada que danças no meio da rua rodopiando embalada
por uma eterna melodia…
Da minha janela… era isto que veria se tivesse uma, mas a única
que tenho é esta moldura riscada na pedra cinzenta por onde deixo os meus
sonhos viajar, navegando sempre até chegar até ti. E, todos os dias, com uma
pequena pedra pontiaguda, socalco mais cada traço desta moldura, como cada
passo, cada dia para chegar até ti. E a tormenta passará e por esta janela
sairei desta prisão eterna e poderei finalmente abraçar-te.
Texto: Susana Silva (escrito para o blog escrevivência)
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