Avançar para o conteúdo principal

O sol nasceu




Aqui estou, deitado sobre este capim iluminado por um céu estrelado que admiro como se fosse a última vez. Talvez seja mesmo. A roupa encardida e ainda molhada colada ao corpo é o meu abrigo e a minha proteção nesta noite escura. A lua ausentou-se e permitiu um silêncio que consigo sentir, embora nos meus ouvidos este latejante zumbido que me faz temer até a leve brisa que faz dançar a mais fina erva. Inspiro profundamente e sinto o ar morno a entrar pelos meus pulmões o coração parece desacelerar e eu sinto-me em paz.
Que vida feliz que vivi. Vou sentir a tua falta Amália, e dos teus fados chorados. Leve vento entrega este beijo que te dou colando-o ao rosto da minha mãe, ela vai saber.
A manhã está para chegar e o meu destino prestes a mudar. Peço a Deus que tenha compaixão de mim, antes a morte que a captura.
Lá vem ele, é o sol, porque não se demora? A noite que me protegia terminou, ouço já os passos que me procuram e sinto, encostado aos olhos, o cano que me ceifará.
O Sol nasceu e eu morri.

Comentários