Aninhada na berma do passeio sentia a chuva que caia e lhe escorria pela pele. Queria misturar-se naquele lamacento espaço e desaparecer por entre as pedras da calçada. Tudo terminara minutos antes. Perdera o homem da sua vida, o seu trabalho e o seu sonho. Com os joelhos encostados ao peito ardia num sofrimento infinito. Era o cair da noite e a luz na cidade era parca. As pessoas corriam tentando fugir entre as gotas da chuva e ela deixava-se ali, inerte. Até que um trovão assustou de tal modo um pobre homem que ele tombou em cima dela. Ela suportou o peso daquele corpo com o seu próprio corpo e elevou-o. Ao levantar os olhos ela vê um pobre e sombrio homem, muito aprumado vestia fato e chapéu preto, os óculos molhados pela chuva e uns pingos de chuva a escorrer pelo bigode. - Queira desculpar-me, minha menina. – Dizia enquanto estendia a sua mão para ajudar a levantá-la. Ela correspondeu e ali frente a frente com ele olhou-o nos olhos inquietos. - Permita que lhe ofereça um...